Foram 5 horas dentro da clínica. Este é o spoiler. O primeiro dia do tratamento alternativo de combate ao câncer teve medição de massa corpórea – boa notícia: não estou muito acima do meu peso -, consulta didática e esquisitona de uma hora e meia – na sequência, conto mais – e um monte de intervenções inesperadas.
5 quilos. São apenas 5 quilos que me separam no momento de meu peso ideal. Como o tratamento prevê jejum total de até 10 dias – sim, você não leu errado -, se eu não enlouquecer antes, até passo da meta. Fácil não será. 10 dias sem comer nada!
Na consulta, o diagnóstico é feito usando uma técnica chamada BDORT. Para ficar mais fácil – ou não -, sugiro dar uma googlada. O que sei depois de ouvir a explicação do médico e observar ele atuando é que a técnica é baseada no fenômeno do enfraquecimento muscular provocado pela ressonância entre duas substâncias idênticas.
Na prática, o doutor pegou uma cepa com células de carcinoma papilífero, o tipo de tumor que eu tenho, ele a aproxima da minha tireóide e, enquanto faz uma espécie de rastreamento, uma assistente fica ao seu lado tentando abrir os dedos em formação de anel. Quando ele identifica o local exato, os dedos perdem força e ela consegue abri-los com facilidade. Sei, parece muito louco, mas se até a associação médica reconhece o BDORT inventado lá por um japonês nos anos 80 como uma técnica científica, por que não acreditar, né?
O médico repete o mesmo procedimento para identificar eventuais vírus, fungos e bactérias, usando vidrinhos com as respectivas frequências. Por meio desse exame, ele encontrou por exemplo um fungo na minha tireóide chamado Aspergillus. Como matar o bichinho? Uai, com um equipamento – não me pergunte o nome, por favor – que emite uma frequência contrária. Por quanto tempo? Duas horas! Período que pareceu interminável, uma vez que, primeiro, eu não estava preparado para ficar tanto tempo na clínica; segundo, porque nesse período eu não podia consultar meu celular e não tinha levado sequer um livro para me entreter e; terceiro, porque enquanto eu recebia ondas de frequência letais para o Aspergillus por meio de uns grampões presos em minha perna direita, meu braço esquerdo recebia 70 gramas de vitamina C na veia. Sim, 70 gramas, na veia!
Além disso, tive que retirar sangue para um exame só realizado por um laboratório em Barcelona e também realizei um banho de luz na tireóide para diminuir a inflamação. E saí de lá com encaminhamentos para uma odontologista da mesma turma do professor Pardal, que irá retirar todos os amálgamas restantes nos meus dentes, que, pelo que mostrou o exame de BDORT, podem ter provocado uma contaminação que levou à formação do turmo.
Ainda não saí de lá nem longe de ser curado ou sequer mais magro, mas certamente saí mais pobre e curioso para seguir sendo tratado por este que é o primeiro médico que conheço pessoalmente que se descreve como um inquieto e agente provocador do sistema – sim, dei uma olhada no perfil dele nas redes sociais -, ou seja, um cientista de raiz.
Ah! E enquanto eu passava minha tarde na clínica, parece que todas as pessoas de São Paulo assistiam ao por do sol mais espetacular de todos. Fazer o que? Barganhas também fazem parte da vida.