Na última vez que fui doar plaquetas, processo que se repete mensalmente e dura em média uma hora e meia, resolvi passar o tempo entre o Facebook e os programas matutinos da Globo. De repente, parecia que todo mundo havia aceito o “Ice Bucket Challenge” (Desafio do Balde de Gelo). Embora eu tenha achado nobre a campanha solidária para ajudar a ALS, uma organização americana que arrecada fundos para financiar pesquisa e ajudar pacientes com a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), confesso que ver todos aqueles selfies de gente posando de altruísta e desperdiçando tanta água num momento onde São Paulo amarga uma seca fenomenal, com a ameaça iminente de desabastecimento, me deixou um tanto quanto puto, para usar a palavra apropriada. Num daqueles impulsos que, às vezes, cometo sem pensar, pedi para a enfermeira baixar o volume da televisão e gravei esse
vídeo aqui, postado no instante seguinte no Facebook. Eu não faria a menor ideia de que mais de quatro mil pessoas iriam compartilhá-lo em menos de uma semana.
Mas o que viria a me espantar mesmo seria o fato de pouquíssimas pessoas terem assumido publicamente que aceitaram o desafio e fariam uma doação ou levariam alguém até um banco de sangue com as condições apropriadas para fazê-lo, como a Rosemeire Miranda, que publicou a foto que usei para ilustrar esse texto, e a Fernanda Abrão, com o protocolo comprovando a doação postado aqui ao lado. E aí, me pergunto: será que as pessoas acreditam mesmo que estão mudando o mundo curtindo ou compartilhando posts como o meu? Parece que, ao compartilhá-lo, esperam que alguém – e não elas, claro! – partam para a ação. Em poucos cliques, é perfeitamente possível fazer uma doação a uma instituição sem fins lucrativos como a ELA, mas para encher uma bolsinha de sangue ou de plaquetas é preciso tirar a bunda do sofá e ir até um banco de sangue, espetar uma agulha na veia e aguardar até que a bolsinha se encha. Nesse caso, um clique não serve para absolutamente nada. E em todas as situações relacionadas a seguir também não.
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