Amigo vem do latim “amicus”, que possivelmente derivou de “amore”. Só que, diferentemente das paixões, amor de amigo é para sempre.

Todo mundo tem um amigo. Rico, pobre, gordo, magro, alto, baixo, bonito, feio, branco, negro, criança, velho, parece que tem sempre um amigo que combina com a gente. E combina é a palavra certa, na medida em que é sinônimo de harmoniza. Amigos trazem harmonia para nossa vida quando estamos descompensados, pacificando nossos espíritos e mostrando que há sempre uma luz no fim do túnel. O amigo é a própria luz a nos mostrar que nunca estamos sós. Amigo é nosso maior torcedor, é o fã que espalha hipérboles sobre nossas conquistas e nos defende ao menor sinal de crítica.

Amigo sofre junto, comemora junto e, às vezes, dá um jeito de mudar de escola, profissão ou de cidade só para não ficar muito longe. E se a distância é inevitável, o amigo faz de tudo para deixar nossa lembrança viva na memória. Assim, mesmo que passe um tempo enorme, quando os amigos se encontram, é sempre aquela festa. Abraços, tapinhas nas costas – se são homens -, “nossa, como você está linda!” – se são mulheres -, bocas em largos sorrisos, olhos que sorriem, o corpo todo sorri quando encontra o amigo.

Amigo não pede nada em troca, mas se disser que também não espera nada, está mentindo. Amigo adora um cafuné, um carinho, quer ser reconhecido como grande companheiro. Não é à toa que se diz que o cachorro é nosso maior amigo. Está sempre esquecendo as injustiças que cometemos, sempre perdoando, sempre recomeçando pelo prazer de simplesmente ser nosso amigo. Dizem também que amigo de verdade se conta nos dedos. Então, devo ser uma centopeia disfarçada, porque tenho tantos amigos que fica até difícil contá-los. São amigos na família, amigos de infância, amigos da faculdade, amigos que fiz e continuo fazendo no trabalho, amigos que amigos me apresentam, amigos que surgem virtualmente e, mesmo que nunca os tenha visto – às vezes, nem sequer ouvimos a voz um do outro – são amigos reais, tão verdadeiros quanto qualquer amigo pode ser. Amigo é estado de espírito, contagia sem precisar da matéria. Sua matéria é o amor, que se transmite pelo pensamento e pela vibração do coração.

Mas por ter tantos amigos, às vezes, não consigo ficar perto de alguns deles nem em pensamento. E se o coração não reclama, o amigo parece que fica esquecido. Até que, sem preparo ou aviso prévio, chega a notícia que o amigo partiu sem despedida. Nessa hora, é como se a gente tivesse morrido junto, sob o peso esmagador da culpa. Por que é que não convivi mais com ele? A gente se pergunta sem querer a resposta. E aí começa a lembrar com imenso carinho dos momentos que dividimos juntos e nos vemos, de repente, entre o choro compulsivo e o riso incontido. A incredulidade vai perdendo terreno para a aceitação. O amigo se foi, não há mais nada a fazer…

De repente, somos tomados por um entusiasmo que parece despropositado e descabido. Tentamos negá-lo uma, duas, três vezes, até que, vencidos, nos entregamos e saímos de novo da caverna onde nos escondíamos em nosso luto. Há uma urgência em nosso olhar e, aos tropeços, corremos em busca dos muitos amigos que fizemos ao longo da vida e que nos aguardam de braços abertos e com uma festa pronta, como o pai ao filho pródigo. Amigos sabem que, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção, o que importa é ouvir a voz que vem do coração.