Transformação – qual é o seu caminho?

segunda-feira, 03 janeiro 2011, 17:33 | Tags: | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Antes exclusivos aos espaços terapêuticos, os processos de auto-transformação já são a nova febre do milênio. De um lado, um mundaréu de gente querendo dar uma guinada em sua vida. De outro, ofertas aparentemente infinitas de caminhos. No entanto, juntar a fome com a vontade de comer nem sempre produz bons resultados – pelo menos, não quando o produto é vendido como a “receita certa”.

As relações no trabalho já não são mais as mesmas. As relações entre parceiros afetivos também já não são. Assim como se modificaram profundamente as relações entre pais e filhos. Nesse mundo, momentaneamente, desformatado, a frustração transformou-se numa verdadeira pandemia. Sem a possibilidade de voltarmos a viver sob regras claras e pré-definidas e sem o diálogo aberto e frequente – habilidade humana que parece ter se desgastado por falta de prática -, sentimo-nos perdidos como baratas esfomeadas que captam o cheiro da comida, mas não conseguem definir de onde ele vem.

Prato cheio para as soluções prontas, oferecidas não apenas pela mídia – que costuma ganhar injustamente o título de a grande culpada por nossas insatisfações -, mas, principalmente, pelo colega, pelo amigo, pelo companheiro ou pela companheira que está ali ao nosso lado e que, portanto, sabe – obviamente, apenas acha que sabe – o remédio perfeito para nossas aflições. Pode ser um livro de auto-ajuda, um workshop, uma palestra, uma terapia alternativa. Mesmo com a melhor das intenções, a recomendação deve ser vista com toda a cautela. Isso porque quem nos oferece caminhos de transformação, o faz ou porque experimentou e funcionou consigo mesmo ou porque tem algum interesse pessoal na história – ganho financeiro ou reconhecimento como alguém mais “evoluído”.

Para que um caminho de auto-transformação dê certo – e o conceito de certo é, com o perdão pelo trocadilho, certamente relativo -, é necessário, no entanto, que escolhamos nosso próprio caminho. Não há qualquer problema em pesquisarmos os caminhos alheios, mas se tentarmos seguir os mesmos passos dos outros, o máximo que conseguiremos é ter uma vaga ideia do que funcionou para o outro. Por outro lado, experimentar os caminhos alheios pode, sim, ser uma boa forma de construir nosso próprio caminho – algo útil para nos inspirarmos, quando estamos na fase da barata tonta, desde que não nos esqueçamos que é isso o que estamos fazendo: pesquisando e obtendo informações, por meio da experiência, para a elaboração de nosso mapa particular de transformação.

O que funciona para mim – e talvez funcione também para você – é que, quando estou vivendo essas experiências, procuro me manter atento ao que estou sentindo. Se a experiência não é capaz de mexer comigo ou se o sentimento que ela provoca é de mal estar, concluo que esse caminho não se aplica a mim. E aqui faço uma referência a Freud, que dizia que existem duas formas de se buscar o prazer: buscando evitar o desprazer ou experimentando fortes sensações de prazer. Já experimentei muitos caminhos relacionados à primeira, onde pude tomar contado com minhas feridas e traumas infantis. O máximo que consegui foi re-sentir muita dor e muito sofrimento antigo. Devidamente experimentado no caminho que foca o desprazer, hoje deliberadamente foco a segunda forma. A experiência me provoca sensação e bem estar? Sigo em frente. Caso contrário, não é para mim e pronto.

Outra forma de classificar as experiências de auto-transformação tem a ver com um pensamento que é atribuído a Confúcio e que eu costumo repetir muitas e muitas vezes: pode-se atingir a consciência pela experiência, pela contemplação ou pela meditação. A experiência costuma ser a mais penosa, é o que dizia Confúcio, porém penso que tem se mostrado a mais efetiva, na medida em que é o caminho mais simples para quem, como nós, vive imerso na cultura ocidental do fazer. E, para mim, experiência tem a ver com relacionar-se com o outro.

É por meio de meus diferentes relacionamentos que eu me transformo. Por meio do espelho do outro, posso me ver com outros olhos e, a partir deste processo, amplio a consciência sobre mim mesmo. Em outras palavras, esqueça a meditação! Não funciona comigo. Vou repetir: não funciona COMIGO. Ou seja, não significa que não irá funcionar com você, assim como o fato de eu não conseguir meditar – pelo menos, não da forma como se costuma entender a meditação – não significa que eu não possa fazer um trabalho profundo de ampliação da consciência. Medito escrevendo. Medito caminhando. Medito observando o movimento das nuvens e dos pássaros. Medito ouvindo certas músicas, mas preciso do movimento para meditar, tanto é que medito até dirigindo, enquanto ouço minha própria voz gravada no iphone me conduzindo em alguma reflexão. Meu caminho é, de uma forma ou de outra, sempre relacional. E são experiências baseadas em trocas relacionais que chamam minha atenção, que mexem comigo e me conduzem a sensações de bem-estar.

Se você também sente que esse seja o seu caminho, maravilha, temos muito o que trocar. E se você prefere o caminho mais individual da meditação clássica, também temos muito sobre o que conversar. Isso porque não importa o caminho que cada um escolha. Se ele estiver, individualmente, funcionando para nós, é o caminho certo. E se é o caminho certo, nossos caminhos se cruzam naquilo que têm igualmente de sagrado: o resgate do sentimento amoroso em seu significado mais amplo e profundo, este, sim, o único caminho que é realmente universal e sem volta.

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