Durante muito tempo, acreditei piamente que tudo o que me acontecia de bom ou de ruim era de minha inteira responsabilidade. Resultado: vivia culpado, alimentando a mágoa de mim mesmo por tantas idiotices auto-cometidas. Nem tinha clima para comemorar os acertos, tamanho era o peso dos erros. E nessa lista cabiam tanto decisões que acabavam se mostrando equivocadas quanto qualquer tipo de sofrimento físico ou emocional, afinal, se tudo o que me acontece é de minha responsabilidade, até pelas doenças eu devo me culpar.
Cansei de ouvir lembretes de meu poder supremo por minha própria vida em frases como essa preciosidade: “reflita sobre o que esta doença quer lhe ensinar”. E lá ia eu dialogar com as pedras que se formavam em meus rins. Acontece que, mesmo que, de alguma forma, eu as tenha criado, pedras são pedras, coisas sem vida e, portanto, sem qualquer expressão que possa contribuir para uma conversa.
Até consigo concordar que tenho um deus potencial dentro de mim, capaz de coisas que até Deus – o do nome próprio- duvida. Só que conseguir conectá-lo e agir a partir dele são outros quinhentos. Fazendo um esforço, consigo pensar em uns cinco ou seis nomes de pessoas que eu acho que já conseguiram tal proeza – uma ou duas talvez tenham feito isso a maior parte do tempo, e as demais fizeram o suficiente para que esse mistério as tornasse conhecidas.
Coloco Jesus e Buda no primeiro grupo e Gandhi no segundo. Pensando bem, até Paulo Coelho parece agir a partir desse poderoso deus de vez em quando, haja vista o sucesso que ele tem feito com seus livros de auto-ajuda. Mas a imagem que tenho do deus interior não combina com a vaidade visivelmente cultivada pelo ilustre escritor.
E se opero muito raramente a partir daquele que tudo sabe, o que sobra é o nada ou o quase nada sei. A exemplo do que acontece com a justiça dos homens, que não condena o ignorante pela maldade ignorada, quem sou eu para me condenar pelos atos cometidos por minha inconsciência? Na melhor das hipóteses, descubro que cometi um equívoco e aumento minhas chances de não repeti-lo. Mesmo assim, vou, sim, em diversas situações, persistir no erro. Tantas forem as vezes em que o telefone tocar na madrugada, acordarei sobressaltado, com todo o meu corpo acreditando que algo muito ruim está acontecido. A diferença é que, ao descobrir o engano, talvez consiga alternar minha reação entre a furiosa indignação com quem interrompeu a paz de meus sonhos e o alívio mais profundo por me descobrir no delito inconsciente do auto-engano mais uma vez.
Responsabilizat-se não é culpar-se e compaixao tb se pratica consigo mesmo…
Bem, Monica, foi exatamente isso o que eu tentei dizer – eu acho…