A ditadura da mudança

segunda-feira, 28 março 2011, 20:42 | Tags: , , | 2 comentários
Postado por Fábio Betti 

Quando mudar deixa de ser um dos recursos da vida para prosseguir existindo, para se transformar em obrigação sem direito a questionamento, alguma coisa precisa mudar, e mudar urgentemente.

Mudar é preciso! Quem fica parado é poste! Em frases como essas, repetidas ad eternum, percebe-se uma urgência no mudar, como se ele fosse a única coisa sensata a fazer se você é um ser humano vivente nestes tempos onde se diz que a mudança não é só imprescindível como absolutamente necessária. A mudança está em todos os lugares, como um “grande irmão” a nos lembrar de nossa condição de permanente e involuntária mutação. No mundo corporativo, a mensagem implícita e, às vezes, escancaradamente explícita, reza que, se você não mudar, mudarão com você. Nas relações afetivas, homens têm que ser mais sensíveis e participativos da vida doméstica, enquanto às mulheres exige-se foco e determinação para alavancar suas carreiras. A cultura do politicamente correto impregna os ambientes com sua cartilha do que é certo e errado, obrigando os ignorantes e os inconscientes a mudarem suas atitudes sob o risco de apedrejamento em praça pública.

De modo algum, sou contra a mudança. Minha vida é a história de um contínuo mudar de um estado a outro. De solteiro para casado. De filho para pai. Mudanças de carreira e de consciência. De crença religiosa, de casa e a inevitável mudança do corpo, que vai envelhecendo a contragosto.

Assim como nem toda mudança é bem vinda, no sentido de mudar de um estado de mal estar para um estado de bem estar, nem toda mudança é necessária. Durmo do mesmo lado da cama desde que conheci minha esposa e nenhum de nós vê qualquer sentido ou benefício em mudar esse hábito. Sempre gostei de ler calma e sossegadamente no banheiro, mesmo que corra o risco de criar hemorroidas. Escolho ficar sozinho de vez em quando, mas não deixo de sair com os meus amigos. Adoro conhecer pessoas e não há medo de se ver usado pelo outro que me faça mudar esse comportamento. Mudar de time de futebol? Nem pensar.

Quando observo os fenômenos naturais, reconheço a importância e a verdade do processo evolutivo, ou seja, da mudança, mas não é só ela que manda nesse jogo. O sol continua nascendo e se pondo todos os dias, num ato que se conserva há sabe-se lá quanto tempo, e é melhor que continue assim, para benefício de todos nós.

Há muitas coisas que precisam ser conservadas, e não mudadas, para que a vida possa seguir seu curso. No entanto, parece que pega mal assumir isso. Mudar é o caminho certo, o caminho das pessoas evoluídas. Quem não muda é o errado, o rígido, o resistente, está lutando contra a maré e, certamente, vai morrer antes de chegar à praia.

Mudar, mesmo quando é para melhor, tem sempre sua dose de dor. Tudo o que nos tira da zona de conforto, mesmo que o novo espaço para onde a mudança nos leva prometa ser muito mais confortável, tem seu incômodo. Então, que sejamos livres para escolher quando viver esse incômodo, decidindo o que queremos conservar e o que estamos dispostos a abrir mão a cada momento. Mudar não é tudo na vida, nem deveria ser obrigação. Deveria, isto sim, ser resultado de uma reflexão a partir de uma necessidade ou um desejo, que são sempre individuais – a necessidade e o desejo – e que, ao invés de servir a uma ordem externa, deveriam sempre servir ao direito de cada um de buscar o viver e o conviver no bem estar, seja mantendo as coisas como estão ou não.

2 comentários para “A ditadura da mudança”

  • domingos disse:

    trabalhei em uma empresa que em 2009 mudou tudo.Demitiu, restruturou, mudou a cultura, etc. Ela era a número 1 do mercado antes de 2009. Hoje além de ser a quinta de poucas empresas do ramo no Brasil, está em apuros. A´té o site dela muda de cor que nem camaleão. acredito que temos que evoluir, mas, quanto estamos bem, devemos ter cuidado para mudar cirurgicamente as coisas. é o velho ditado, time que está ganhando, não se mexe. Mas pode-se perceber o ponto mais fraco do time e melhorá-lo.De uma forma ou de outra, as mudanças levam a experiências poditivas e negativas em nossas vidas, mas nem sempre mudar significa evoluir.basta ver histórias de pessoas que mudaram radicalmente o modo de vida.Todos nós conhecemos pessoas que se arrependeram.Acreduto que a maior dificuldade é a percepção de que a mudança será boa ou ruim.As vezes a tentativa de mudança causa consequencias irreversiveis.Mas faz parte da vida e a evolução quer qruiramos ou não, é continua. As vezes para melhor ou pior. Penso que devemos recuar quando necessário e colocarmos os pés no chão novamente.Não devemos as vezes insistir em mudanças sem resultados, simplesmente para não dar o braço a torcer.

    abraço

  • Fabio Betti disse:

    Muito obrigado, Domingos, pelo seu comentário. Abraço

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