Ouvi de uma amiga que lhe falta um sonho realmente grande para que sua vida faça sentido. Contou-me que tudo o que vê são pedaços de sonhos em um mosaico que não se fecha. Quando, de repente, ela me citou como alguém que sonha grande, foi inevitável me perguntar sobre o tamanho e o sentido de meus sonhos. Será que um sonhador assumidamente incorrigível como eu me qualifico tem, de fato, um grande sonho?
“Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios… Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.” Difícil achar alguém que não tenha ouvido falar do famos discurso de Martin Luther King de 1963. “I have a dream”, ele repetia, imortalizando sua luta pela igualdade racial. Sem dúvida, um sonho e tanto.
“Eu acredito que esta nação deva se comprometer para alcançar o objetivo, antes do fim da década, de aterrissar o homem na Lua e fazê-lo voltar em segurança para a Terra”, profetizava o presidente norte-americano John Kennedy dois anos antes em outro discurso antológico. Mais um sonho grandioso, sem sombra de duvida.
“Grandes homens são quem são porque seguiram adiante com sonhos que eram, supostamente, maiores que eles”, afirma David Khouri, que se apresenta como alguém sério, divertido, distraído e estudante de medicina nas horas vagas. Se não fosse o fato de essa frase ter sido escolhida para figurar no site Pensador, possivelmente, eu jamais teria ouvido falar dele. E, no entanto, embora não haja como compará-lo à importância histórica dos dois personagens citados acima, o Davi tem seus momentos de fama toda vez que você pesquisa no Google, por exemplo, a expressão “sonhos de grandes homens”.
Será que os sonhos do Davi são menores do que os sonhos de Martin Luther King e Kenedy? Mesmo que só o próprio Davi pudesse responder essa questão, eu faço uma aposta que os sonhos dele não são, nem um milímetro, menores. Talvez, eles jamais cheguem a ter o mesmo impacto alcançado pelos famosos líderes – embora, até mesmo sobre essa questão, eu não bateria o martelo, afinal, o Davi tem uma vantagem importante sobre os outros dois. Ele vive numa época onde o planeta está quase todo conectado, e uma frase sua de repente pode se espalhar para todos os cantos e provocar um impacto estrondoso na vida de muita gente.
Qual é o meu grande sonho? Me pergunto e, honestamente, não encontro resposta – o que, de imediato, me faz pensar se sou realmente tão sonhador quanto me imagino. Sonho em contribuir para um mundo melhor, é verdade, mas quer sonho menos específico do que esse? Um sonho tão genérico dificilmente será um grande sonho. E ele nunca será grande justamente porque sonhos grandes são específicos, apontam para alguma direção, como se eles tivessem em si um componente auto-regulatório, que nos ajudasse a concretizá-los, e esse componente é um alvo, um foco, uma estrela pela qual podemos nos guiar.
Bem, sonhos específicos, tenho aos montes. No entanto, como a grande maioria não parece estar ligada por uma argamassa que lhes dê um significado comum, eu diria que, sim, são sonhos fragmentados. Se os olho como um todo, não vejo sentido. Se os olho individualmente, vejo-os pequenos. Assim, ou eles parecem grandes, mas sem sentido, ou possuem significados específicos, mas são tão pequenos que questiono se são realmente capazes de produzir algum efeito ou fazer alguma diferença para a conquista de meu grande sonho genérico.
Não sei se, um dia, serei capaz de resolver esse conflito cognitivo. Sei apenas que, dadas as muitas alegrias que o caminho de concretizar esses fragmentos de sonhos têm propiciado a mim e a outras pessoas que, de algum modo, participam deles, prefiro, sim, reconhecê-los como parte do grande sonho, assim como uma gota de oceano também é o oceano. “O sonho de um é sonho. O de alguns é ideia. O de vários? É futuro.” Pois é, esse tal de Davi Khouri ainda irá fazer história.
Ah… não sei se os sonhos têm obrigatoriamente de ser grandes para ter valor. Cada pessoa tem a sua missão por aqui… Nem todos serão Gandhi ou Luther King. Mas pequenos sonhos devem obter igual dedicação… alimentar a nossa alma, nos fazer caminhar. E uma grande coisa pode ser composta de vários pequenos passos, não? 🙂
Beijos!
Vez em quando bato aqui… e me deparo com textos como esse que eu, lendo, fui sendo levada a refletir sobre os meus sonhos… em fragmentos ou inteiros, sei lá. Voltando disso, o que veio no fluxo foi o prazer que senti ao terminar de te ler, Fábio! Tu estás sempre te superando! Adorei! Again!
Que bom ter amigas sonhadores como vocês duas por aqui. Obrigado, Deb e Gi, pelos comentários.
Fiquei agradavelmente surpreso quando fui encaminhado a este texto. Encontrei um bom site com excelentes produções.
A príncipio achei estranho um trabalho destes em um site entitulado Discutindo a Relação. Resolvi dar uma olhada em outros posts. Concluí que o nome não poderia ser diferente. As páginas são sim sobre DRs. Mas as relações são mais amplas, discute-se aqui a relação do homem para com o homem e deste para com o mundo. Interesante.
Eu próprio venho galgando, ainda que a curtíssimos passos, esta estrada literária e devo confessar que fica cada vez mais interessante.
Voltarei outras vezes.
Congratulações Fabio.
Davi, sinto-me honrado pela apreciação que você faz ao blog e surpreendido pela rapidez com que você entendeu a proposta dele. Na realidade, o início – e os primeiros textos não me deixam mentir – foi de fato mais dirigido aos relacionamentos amorosos. Com o tempo, no entanto, foi amadurecendo a ideia de ampliar a discussão de relação para além do pequeno mundo homem-mulher e congêneres. Por outro lado, não há qualquer proposta literária nisso, mas tão somente a criação desse espaço de diálogo, onde, através de meu refletir sobre as experiências que tenho em meu viver, provocar que outros o façam a partir de seu próprio viver. E boa sorte com seus objetivos literários. Abraços
gosto da condução do seu texto, e pretendo voltar para sapear mais por suas linhas, mas o que me trouxe aqui dessa vez foi um afeto… vc fala do Khouri… um rapazinho de palavras intensas, algum sarcasmo, às vezes dureza… com quem eu tenho o prazer de tomar café, falando de dias, sonhos, temores ou simplesmente da chuva que não refresca…
Oi Binha, esse garoto parece ser realmente alguém especial. Encontrei-o na Internet e, mesmo sem conhecê-lo, já o admiro. Num desses cafés, transmita por favor meu abraço carinhoso a ele. E outro para você.