Ultimamente, tenho ouvido bastante a pergunta “você prefere ter razão ou ser feliz?” Embora ser feliz faça muito sentido para mim, não entendo porque para ser feliz seja necessário perder a razão. Não dá para ter os dois ou o direito à felicidade é exclusivo para quem não tem razão e para os que são chamados de loucos? Não acho que perdi a razão – pelo menos, não o tempo todo – nem me acho louco – pelo menos, não o tempo todo -, mas me julgo um sujeito feliz – claro, não o tempo todo. Aliás, quando olho a minha volta, só vejo gente tentando ser feliz – tentando o tempo todo!
Quem casa não quer apenas casa, quer ser feliz a dois. Aliás, ninguém casa só para constituir uma família. Nos juntamos com outro diferente de nós e fazemos filhos como parte de nosso projeto de felicidade. Ou não nos juntamos a ninguém, nem fazemos filhos pelo mesmo motivo. Podemos até ficar nos lamentando estando num ou noutro estado, mas se reclamamos é porque estamos infelizes – queremos, portanto, fazer as pazes novamente com a felicidade e a imaginamos em algum outro lugar, já que, onde estamos, ela não mais habita.
Já ouvi que o objetivo de uma empresa é ganhar dinheiro e não buscar a felicidade. Mas por que uma empresa iria querer ganhar dinheiro se não fosse para deixar seus donos felizes? E quem doa praticamente metade de seu dia a uma empresa, pode até não se dar conta, mas faz isso para ser feliz. Dinheiro compra, sim, felicidade. Quem diz o contrário é porque ainda não parou para pensar em tudo o que o dinheiro pode propiciar. Dinheiro paga contas, financia sonhos, dá segurança… Mas só o dinheiro não basta – assim como só a relação a dois, só a família, só o trabalho, só o lazer, só qualquer coisa.
Quem tem quase nada, passa o tempo desejando o que não tem. E, mesmo que se tenha muito de uma coisa só, não há Cristo que garanta uma felicidade que perdure. Ter muito de uma coisa só, mesmo que seja dinheiro, no fundo, é o mesmo que não ter nada, é viver na escassez. E felicidade é abundância, que pode tanto ser muito de tudo, quanto pouco de cada coisa. Só isso explicaria a felicidade que se pode encontrar em gente simples, que vive humildemente, mas que está sempre com um sorriso no rosto. É gente que tem um pouco de dinheiro, um pouco de amigos, um pouco de lazer, um pouco de família, um pouco de paz, um pouco de paixão, um pouco de tudo.
Pessoas que têm um pouco de tudo têm sido meus maiores mestres. Elas me ensinam que, quando divido meu tempo entre as muitas coisas que me fazem feliz, multiplico minha felicidade, mesmo que isso signifique abrir mão de ter uma ou outra coisa mais do que outra. Dinheiro, por exemplo. Razão, com certeza. Prefiro ter um pouco de razão a ter toda a razão. Porque o ser humano é, por natureza, um ser social. Quando divido a propriedade da verdade com as pessoas que encontro, percebo que podemos compartilhar da felicidade de juntarmos nossas pequenas parcelas de razão e construirmos juntos algo que faz muito mais sentido
Fabio,
Adorei o texto! Multiplicar um pouco de cada coisa é o que nos deixa ricos.
Obrigada!
Patricia