Custe o que custar

quarta-feira, 04 abril 2012, 16:15 | Tags: , , , , , , , , , , , , , , , , | 3 comentários
Postado por Fábio Betti 

Estava eu procurando na matéria da minha vida, como sempre faço, algum tema que me motivasse o suficiente para escrever um post, quando recebo este comentário aqui sobre algo que escrevi há quase quatro anos: “…o Fábio é um cara sem vergonha, vc de fato Fabio é um ordinário. Devia levar uma grande lição.” O texto que suscitou a ira desta e de outras leitoras pode ser conferido aqui ao lado, porque há anos está entre os mais populares.

“Olhar para outras mulheres pode ser considerado um ato de traição?” foi a forma que encontrei para falar do instinto masculino do caçador, mas já fui tantas vezes mal-interpretado que só não o exclui ainda porque, mesmo que eu tenha exagerado na tinta, mesmo que eu esteja terrivelmente equivocado em meu ponto de vista, ainda assim tenho o direito de expressar minha opinião, assim como fez a leitora. A diferença, talvez, resida no fato de que eu não me dirigi a ela ou a nenhuma mulher especificamente quando escrevi esse texto, mas tão somente falei de mim, eu, homem, casado, pai de família, profissional liberal, cidadão brasileiro, pagador de impostos e, principalmente, livre, livre para acertar e para errar no caminho do viver, livre para ir e vir e para expressar minhas próprias opiniões, minhas ideias sobre a vida e sobre o mundo.

A esse respeito, Voltaire, um conhecido defensor das liberdades civis, tem uma frase ótima, que não me canso de repetir: “Odeio todas as suas ideias, mas lutarei até a morte para que você tenha o direito de expressá-las.” Esta é a história de minha vida: lutar para que qualquer pessoa possa defender suas ideias, até mesmo quando eu as odeio – odeio as ideias, não as pessoas. É comum que se confundam as ideias com as pessoas que as defendam. Já há tempos vivemos um processo de coisificação que, infelizmente, não parece arrefecer e que provavelmente contribua para essa confusão. Para mim, ideias são roupas que vestimos. Só nos servem enquanto nos servem. Eu tenho um apreço especial por roupas novas, embora não descarte aquelas que fizeram parte de momentos importantes de minha história. Mas não me apego a nenhuma delas. A única ideia que não abro mão é essa: a do direito de expressar a ideia que for.

Meu querido professor, biólogo e pesquisador renomado, Humberto Maturana diz que somos totalmente responsáveis pelo que falamos, assim como igualmente irresponsáveis pelo que os outros escutam do que falamos. Não sei de onde a leitora que dirige sua ira a mim disse o que disse, mas não tenho como me responsabilizar pela forma como ela me escuta, se é que me escuta. Ela até que dá uma pista de onde, talvez, esteja me escutando, em outro comentário postado sobre o mesmo texto: “Ao ler o seu texto e mtos comentarios por aqui, chego à conclusão que a maioria, com certeza, não tem Deus na sua vida nem sabe o poder da Oração. Sexo, sexo e mais sexo?? Hum… Deixa ver o k me faz lembrar… hum… ah sim! Um animal na selva, kem sabe um burro (eles têm muita testosterona) ou mesmo um hipopotamo. Legal! rsrs…”

Lamento que ainda exista essa visão de um deus – a caixa baixa é intencional – punitivo e castrador. Mas também essa é uma ideia que, tanto quanto as minhas próprias ideias, tem o direito de ser defendida. No entanto, quando ela é usada intencionalmente como instrumento para atacar alguém, ela já não é mais uma ideia, e sim uma arma. Não acredito que Deus – esse Deus universal que não se aprisiona em nenhuma igreja ou religião – tenha nos dado a liberdade de expressão para que a utilizemos para o ódio e a destruição. Mas até mesmo esse direito, o de usar nosso poder para o mal, também é um direito nosso. Só não espere que eu vá afagar a mão que me agride ou a boca que me lança palavras envenenadas. Se não uso o mesmo tom para me defender, certamente não é por falta de vontade; é simplesmente porque ainda acredito que há nesse mundo uma força crescente e envolvente em direção à tolerância e ao respeito entre os seres viventes. Não estou, portanto, sozinho. Não me sinto nunca sozinho em meu espaço de viver e conviver na liberdade de expressão. E a melhor forma de lhe responder à altura, cara leitora, é dando publicidade a seus comentários.

3 comentários para “Custe o que custar”

  • Renata Moraes disse:

    Querido,
    hauhauhaauhh

    Só quem realmente não te conhece para te rotular de ordinário, mas tudo bem. Cada um acha e escreve o que quer, não é? E nós, aprofundados e incorrigíveis (que ainda eu prefiro, claro), ainda temos que respirar muito para continuarmos dando voz aos que se prendem a um só lado de uma questão sem entender que por mais completa que pareça nunca será inteira.
    Beijo da sua admiradora que te acha Extraordinário, mas graças a DEUS, sem vergonha mesmo. E esperamos que continue assim pois a vergonha não nos levou a lugar nenhum…ou nos trouxe?
    Mistério, boa pergunta… vou continuar com ela por uns tempos

  • Yara disse:

    As crenças e valores morais de uma pessoa geralmente guiam sua vida e atitudes…até aí, tudo bem…
    Acho que o problema é quando uma pessoa passa a ver suas crenças/valores como verdades universais….as pessoas “donas da verdade”, aquelas que acham que têm a patente e todos os direitos autorais, são engessadas….rígidas, com olhar limitado, presas em um quartinho sem janelas no qual se escondem e se debatem…e quando se permitem dar uma espiadinha pela fresta da porta, se escandalizam com o que veem…
    Os donos da verdade têm um padrão de comportamento padrão: sempre começam uma fala (discurso?) com um “se fosse eu..”….já reparou? Geralmente depois dessa expressão ele vomita uma verdade absoluta, um atitude ou um comportamento que é o CERTO e que VOCÊ deveria saber muito bem disso e ter adotado :o)
    Essas pessoas geralmente piram quando descobrem que a verdade absoluta non ecziste, poham….o que existe são pontos de vista….e que certamente cada um tem o seu.
    Sem entrar no mérito do conteúdo do seu texto, se alguém discorda do comportamento que você cita como aceitável, não seria mais fácil, ao invés de te atacar, simplesmente se afastar de homens que têm este comportamento? Mas o dono da verdade tem uma vida geralmente muito pequena, daí sobra tempo e energia para avaliar, julgar e condenar a vida e ideias alheias.
    Talvez essa reação contrária tão violenta seja um ataque não a vc exatamente, nem à ideia em si, mas a todos os homens que olharam a bunda alheia enquanto estavam com ela…é mais fácil atacar você, que “personifica” os caras mas não está no universo de convívio dela, do que ela se posicionar sobre o assunto diretamente para o parceiro, por exemplo….quem sabe?
    Geralmente quem tem essa visão de sexo como coisa animalesca, é extremamente reprimida…de alguma forma, creio que os comentários da moça inspiram mais piedade do que revolta….afinal, imagine a vida restritiva que leva uma pessoa que tem a crença em um Deus tão punitivo e avesso a uma boa transa :o)
    Conheci uma mulher na caatinga que reagia violentamente ao ver casais se beijando, dizendo que é uma pouca vergonha? Mas como ela teve doze filhos, eu perguntei: Uai, mas a senhora teve DOZE filhos (tecnicamente, a não ser que seja a Virgem Maria, isso exige PELO MENOS doze transas), portanto também já beijou muito seu marido, né não? Ela me respondeu imediatamente, muito empertigada e orgulhosa: Na boca, NUNCA!!!!! Fiquei horrorizada….primeiro pelo fato triste de uma mulher que teve doze filhos desconhecer a delícia que é um bom beijo molhado…e depois pelo orgulho que ela tinha disso….creio que ela imagina que cada vez que negou um beijo esse Deus opressor passou a mão na cabeça dela e disse um “Muito bem, Flipper”….e marcou em um caderninho alguns pontos que ela pode resgatar na eternidade. Fiquei triste por ela, pois sim, ela teve mesmo pelo menos doze transas…mas não fez amor uma única vez….soooo sad….
    Pessoas donas da verdade têm medo de outras possibilidades, de outros olhares…pergunte a mil católicos o que eles acham do fato de a igreja ter vendido indulgências e queimado “bruxas” e me diga quantos vão sequer responder.
    Ela menciona o poder da oração….que cazzo essa mania de acharem que a oração, ao invés de uma comunicação com o que você acredita ser divino, tem que ser uma coisa que salva você de sucumbir a tentações e arder no fogo do inferno!
    No fogo do inferno já ardem, em vida, mentes aprisionadas em crenças tão castradoras…eu acho….e vergonha a gente deve ter é de desperdiçar nossa tão breve vida…ou não?
    Cada um com a sua opinião, néam?

  • Lene Monteiro disse:

    Lamentável que algumas mulheres tenham essa visão de um deus (a caixa baixa nesse caso, é também intencional.) castrador, ditador e machista.
    Nunca postei nenhum outro comentário, mas leio sempre seus textos, e não poderia ficar indiferente ao comentário infeliz dessa criatura.
    Me identifico com todos os textos que já li, inclusive esse que está sendo alvo de tanta polêmica.
    Peço apenas que continue sendo esse “sem vergonha ordinário” sim, mas acima de tudo continue sendo essa pessoa verdadeira e autêntica.

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