Arrumando a casa

domingo, 19 agosto 2012, 17:40 | Tags: , , | Nenhum comentário
Postado por Clarissa Porciuncula 

Fazendo o balanço de sempre. Não o faço no final do mês ou na passagem de ano. O balanço que faço de mim mesma acontece a qualquer dia, a qualquer hora. Não decido fazê-lo, ele simplesmente vem e me faz dispersar a atenção daquilo que estou fazendo, geralmente durante uma leitura que pode ser de livros, revistas ou mesmo um folheto de uma propaganda qualquer, até de sabonete ou quando cozinho, elaborando as misturas, cortando aqui, temperando ali, jogando fora essa ou aquela parte, experimentando o ponto certo do sal ou quando limpo a casa, um trabalho que para mim é muitas vezes chato, às vezes resmungo, às vezes canto, mas sempre converso com meu aspirador, meu tapete etc. Ele vem, o balanço, até mesmo quando não quero fazer limpeza nenhuma e fico protelando, deixando a sujeira para outro dia. Isso pode ter um sentido bastante dúbio. “Não quero limpar isso agora, não quero clarear esse espaço (físico ou mental) hoje”.

A filosofia oriental crê que, ao limparmos nosso ambiente físico, estamos também dando uma faxina no mental ou espiritual. Colocando as ideias em alguma ordem. Não sei como acontece, mas acontece. As ideias vão tomando forma e algumas ponderações e respostas aparecem. O contrário, o não limpar, também provoca reflexões. Qualquer coisa pode dar um clique no seu interruptor de balanço.

É engraçado e produtivo. Não imagino alguém parando numa hora x, num dia x dizendo para si mesmo: agora vou fazer um balanço de meus momentos, de minha vida. Talvez aconteça, mas comigo não é assim. Ele vem quando quer, e quando encontra a brecha ocupa o seu espaço.

Nem sempre estamos atentos a isso, decorre de um exercício de atenção em si mesmo. Auto-observação. O trabalho é constante, para a vida toda, sem ser cansativo. Pode até ser divertido e deve, muitas vezes, o ser.

Se alguém começa a se cansar muito com isso deve verificar por que está carregando tanto peso, tanto pó. Nesse caso, a limpeza pode estar precisando de um ajudante, um faxineiro mais profissional.

Essa atividade que liga o nosso interruptor é individual e subjetiva. Cada um tem a sua que pode ser cozinhar, lavar o carro, fazer esportes, passar roupas, usar o computador, dirigir e até mesmo assistir uma novela. Não há regras.

Nosso processo de elaboração mental está tão mais ligado à realização de atividades mundanas do que imaginamos. Exige atenção em si e no que realizamos.

Comentário

You must be logged in to post a comment.