A Lua nunca se repete

sábado, 08 setembro 2012, 11:13 | Tags: | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Outro dia, vi a Lua nascer e se colocar numa pequena clareira que se formou entre as copas das árvores. Ela estava mais minguada do que cheia, mas destacava-se dourada no meio do verde escuro. Instantes atrás, eu havia tido a intuição de que a noite seria lembrada muitos anos depois. No futuro, saberei se estava certo. Sei apenas que nunca mais verei a mesma Lua.

„Quantas vezes você terá a oportunidade de assistir ao nascer de uma Lua cheia?“A pergunta está no trecho final do filme „O Céu que nos protege“ e se formou em minha retina quando me despedia da Lua já alta no céu. Pensei em todas as Luas que perdi ao longo da vida, seja por descuido, seja por descaso. E mesmo sabendo estar diante de um desses momentos mágicos, fiquei triste em pensar que não iria mais rever essa Lua espetacular que, por capricho, se aninhou na tela inusitada. Por isso, devorei-a de todas as formas possíveis, imprimindo na memória tantas imagens quantas consegui congelar, como se isso me permitisse reviver minha Lua.

Não, na verdade, nenhuma Lua me pertence. Sou eu que pertenço à Lua e me prostro a seus pés, escravizado por seu magnetismo possante. Como então aceitar a morte desse momento único? Impossível. Já vivi o suficiente para reconhecer um desses momentos únicos quando eles, de repente, me acontecem. De tão raros, eles nunca poderiam morrer. Merecem a eternidade. Mas mesmo o poeta já reconheceu que tudo o que podemos fazer é nos contentar que ele seja infinito enquanto dure – infinito, o momento único? Jamais! Náo me contento com o infinito. Insisto, eu quero o eterno. Sou eterno e mereço Luas alaranjadas para sempre pregadas no céu.

Não deveriam existir noites escuras. Nas noites escuras, a alma chora de saudade, sonhando com a Lua que nunca mais irá se repetir no céu, mas que dentro dela ainda continua viva e flamejante – seria isso o fogo que arde sem se ver? Só me resta despedir-me, pendurando-me nesse fio tênue de esperança chamado saudade. Durma bem, Lua linda!

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