Diferentemente da maior parte das dores, não há remédio no mundo capaz de acabar com a dor de cotovelo. A não ser o tempo. O problema é que, nessas horas, o tempo costuma ser preguiçoso e parece caminhar lentamente, causando a sensação de que a dor não irá passar nunca.
A dor do cotovelo desafia a medicina, na medida em que ela é fruto de um chute no traseiro, denotando uma inexplicável relação direta entre o glúteo e essa complexa articulação que liga o úmero à ulna e ao rádio.
Qual é a receita, portanto, para sobreviver dignamente a uma dor de cotovelo? Suspeito que o único caminho possível é se preparar para ela. Assim, quando a dor chegar, você não será pego de surpresa, o que só faz crescer a dita cuja. Devidamente preparado, sua capacidade de aceitação da desgraça tende a ser maior, o que também contribui para atenuar o sofrimento.
Então, vamos lá: caneta e papel na mão, pois vamos atrás dos principais sinais indicadores do fim do período de bonança.
Você está prestes a ser acometido de uma dor de cotovelo quando:
Suas conversas passam a ser sobre os outros e não mais sobre vocês;
Ela deixa de reclamar do tempo absurdo que você passa frente à tevê assistindo a jogos de futebol;
Ela não se importa mais com a toalha molhada que você deixa sobre a cama nem com a louça suja que você nunca se oferece para lavar;
Você chega em casa visivelmente bêbado e ela só lhe pergunta como foi o seu dia;
Ela não fica triste por você ter esquecido, mais uma vez, o aniversário de casamento;
Ela aumenta as horas que passa na academia, contrata um personal trainer, renova o guarda-roupa e diz que está pensando em mudar de vida;
Ela passa a preferir a companhia dos amigos do escritório, das amigas do clube e até do peixinho do aquário a você;
A agenda dela está cheia de compromissos importantes, que não incluem você;
Ela sugere que vocês procurem uma terapia de casal para rever o relacionamento;
A casa onde vocês moram passa a ter lugares onde ela prefere estar, e não são os que você está;
Ela deixa de se trocar na sua frente e começa a ter vergonha de andar nua na sua presença;
Ela não finge mais orgasmos;
Ela se mostra muito mais feliz quando você não está;
Meu amigo, à menor presença de qualquer um desses sinais, se eu fosse você, primeiro, eu procuraria repensar que merda aconteceu comigo para ter me transformado em um parceiro assim tão pouco competitivo. Teria sido comodismo? Excesso de confiança? Orgulho? E, claro, já colocaria minhas barbas de molho, porque tudo indica que o final trágico se aproxima rapidamente. O negócio então é atualizar os contatos com os amigos mais próximos, montar um bom estoque de lenços de papel, porque, quando o cotovelo começar a latejar, o ombro amigo provavelmente será seu único porto seguro por um bom tempo.