Um amigo acaba de completar 50 anos. Aliás, tenho vários amigos que já superaram essa marca histórica e não demorará muito para eu fazer o mesmo. Quando eu era garoto, olhava para pessoas nessa faixa etária e, intimamente, os julgava velhos e acabados. Imaginava-os já ladeira abaixo na jornada da vida. Antes que os meus filhos – e os amigos deles – incorram no mesmo erro, preciso dizer: isso é uma grande bobagem. Nunca me senti tão jovem e tão cheio de energia!
Não há dúvida de que o corpo já dá sinais – e não é de hoje – de desgaste. O movimento é gradual, contínuo, mas nem de longe lembra uma queda livre. Minhas hérnias de disco não me impedem de andar de moto – um prazer que cultivo desde os 18 anos de idade e que, por força de morar numa cidade onde o trânsito parece obra do diabo, transformou-se em meu principal veículo de transporte. Basta que eu frequente com alguma regularidade minhas sessões de pilates e me lembre de contrair o abdômen toda vez que me abaixar ou for carregar peso – algo que, diga-se de passagem, já se tornou automático.
Tive que me adaptar às lentes multifocais e, sem meus óculos, sou um deficiente visual – tanto é que, não raras vezes, confundo o shampoo com o condicionador que, aliás, outro dia chamei de creme rinse, entregando a idade. Com os óculos, no entanto, tenho vida normal. Pensando bem, o que é a vida normal para alguém com quase 50 anos, que vive com a agenda lotada com atividades que lhe dão enorme satisfação, adora viajar, dançar, fazer esquibunda na neve e enlouquece de alegria numa montanha russa?
Tenho amigos na mesma faixa etária que viajam milhares de quilômetros de moto, saltam de paraquedas, mergulham nas profundezas do oceano – aliás, algo que eu também adoro fazer! – ou escalam os picos mais altos do planeta. Meu irmão, poucos anos mais novo do que eu, surfa até hoje nas ondas de respeito da Califórnia, e está longe de mudar para as “longboard”. Enfim, nós, que não temos nada de velhinhos, fazemos coisas que muitas pessoas com menos idade nem ousam fazer. Mas sabe o que melhora mesmo com o tempo? Quando eu era garoto, tudo era muito mais complicado. A começar pelas meninas. Que medo eu tinha de dizer eu te amo! E falar em público, então? Eita garoto mais tímido! Que vulcão é esse que irrompeu na minha testa? O que vou ser quando crescer? Meodeos, como é difícil escolher!
Crescer dói – e como dói! Mas aí vem a maturidade e você descobre que aquela questão de vida ou morte não tinha nada de vida ou morte. Pelo contrário, era só uma questão passageira. Aliás, como todas – absolutamente todas – as outras. As tristezas, as decepções, as conquistas, os fracassos, as alegrias, tudo passa. Os budistas falam isso há mais de dois mil anos! Mas, pelo visto, não adianta falar, é preciso viver. E aí suspeito que tudo o que estou escrevendo aqui produzirá pouco efeito sobre as percepções de meus filhos e os amigos deles sobre nós, os velhos. Mas que guardem seus preconceitos para si, porque velhinho é a vovozinha!