No início de meu casamento, por diversas vezes me vi cobrando de minha mulher uma postura mais maternal. Queria  vê-la cuidando da casa, de minhas roupas, minha comida, exatamente como minha mãe costumava fazer. Embora tivesse um bom álibi – minha mãe morrera apenas dois meses antes de meu casamento -, eu estava, na maior parte do tempo, conscientemente, me colocando na desprotegida porém confortável posição de filhinho dela. Não é preciso dizer que acabei levando uma dura. Ainda bem! Porque levar a mamãe para a cama não é algo lá muito estimulante. Embora alguns primatas até façam isso de vez em quando, os animais seguem o chamado efeito Westermarck, que também é considerado aplicável a humanos. A regra é que indivíduos que crescem juntos desenvolvem aversão sexual pelo outro. Irmãos ou mãe com filho não têm grande desejo de ter sexo. Westermarck formulou essa idéia há muito tempo; ela foi testada com muitos animais e em geral se sustenta.

Nesse sentido,  levar uma dura de sua  mulher quando você, de repente, resolver chamá-la de mamãe é o melhor que pode lhe acontecer. Ou será o fim do sexo, quer você acredite ou não no tal Westermarck.

Por outro lado, para muitas pessoas, a brincadeira pode até ser uma forma de evitar o contato mais íntimo com o outro. Relações desgastadas costumam reproduzir o mundo infantil em reações emocionais e comportamentos de alto grau de imaturidade. Estabelecer uma relação com sua companheira que emule o relacionamento pai-filha ou filho-mãe pode, nesse contexto, ser até considerado algo natural. Não se deseja mais o contato homem-mulher e, em seu lugar, nasce a relação familiar que coloca o sexo como um tabu sagrado. Conheço relacionamentos que se transformaram em relações dessa natureza há muitos anos e estão aí ainda vivos, ou sei lá o estado que melhor o descreveriam. Porque se o sexo acabou, se o contato íntimo não mais existe, que relação é essa onde os envolvidos não podem usufruir da magia da união em um sentido mais amplo? Para mim, estamos falando de uma relação morta, já que se dá entre um filho de mentirinha e uma mãe também de mentirinha. Sexo só existe ser for de verdade, com roçar de peles, pelos, mistura de líquidos, abraços, amassos e tudo o mais que se quiser colocar nessa brincadeira, onde uma das principais regras é fazer tudo bem longe de papai e mamãe.