Não só a nós homens, como também às mulheres, são impostas uma enorme variedade de regras de conduta e características físicas desejadas para que possamos ser considerados pessoas evoluídas. Sequer nos apercebemos da armadilha em que caímos estupidamente. É impossível para qualquer ser de qualquer espécie da natureza ser o que não é. E é exatamente o que estamos fazendo quando partimos cegamente para esse jogo de auto-modelagem de fora para dentro.

Compramos os carros que nos mandam comprar. Vestimos as roupas que nos mandam vestir. Andamos com as pessoas que nos mandam andar. Amamos do jeito que nos mandam amar.

E aí nos frustramos por não sermos capazes de sermos o ideal que nos vendem como premissa para a conquista do certificado de superior entre os vencedores da espécie supostamente mais evoluída. Falhamos, nos sentimos impotentes, eternamente inferiorizados em nossa condição de imperfeição humana.

No entanto, não podemos ser o que não sabemos ser. E só sabemos ser nós mesmos. Com nossas virtudes e nossos defeitos. Com nossos amores e nossas dores. E o que somos não apenas não se encaixa em um modelo artificialmente criado como muda ao sabor do vento – pelo menos, é assim com quem procura ser ao invés de parecer. Ser é se jogar boiando na correnteza e simplesmente deixar-se levar.

Às vezes, confesso que sou rabugento como um velho já sem esperanças. Mas em outras ocasiões, me vejo sofrendo a dor profunda de não conseguir concretizar a utopia, sofrimento típico dos românticos. Em outras, me jogo no trabalho como um missionário para, depois, adormecer nos braços de minha esposa como um filhote em seu ninho.

Quem sou, então? Qual personagem? Qual sentimento? Em que momento, é a pergunta correta.

Sou diferente a cada instante, porque o rio já não é mais o mesmo… E, portanto, se mudo a casca, mudo também a consistência, a consciência. Muda a vista e a visão, muda o pensamento e a inteligência, que, ás vezes, vai pra frente, mas não raro vai pra trás.

Ser homem hoje em dia é não se obrigar a ser nada mais do que a si mesmo.

Ser a si mesmo é encarar sem rodeios sua própria face no espelho, a cara de quem manda em você, dirige sua vida, faz suas escolhas. Ser homem é esse encarar-se a si mesmo e se reconhecer único dono de seu próprio destino. Ser homem é, portanto, tomar contato com o poder real de ser homem, da obstinação que é ser homem num mundo tão cheio de “não me toques” e “atitudes politicamente corretas”.

Ser homem é simplesmte aceitar a dádiva de ter sido escolhido para levar a faísca capaz de fecundar a semente da vida.

E ainda me perguntam o que é ser um homem hoje em dia?!