O incômodo surgiu da ultra-simplificação que acabei fazendo e se manifestou por meio do dilema “satisfação de curto prazo x visão de longo prazo”. É como se o sucesso de um relacionamento dependesse de abrirmos mão da satisfação de nossos desejos em nome de algo “maior”, que um dia irá acontecer – a tal “visão de longo prazo”. Não sei o que me levou a escrever tamanha bobagem – talvez, tenha sido minha formação religiosa, talvez, tenha sido meu próprio medo frente a meus desejos ocultos…

O fato é que não há como uma relação ser duradoura sem que ela nos satisfaça agora, no momento presente. E aí, sim, reside o que talvez pudéssemos chamar de “segredo”: não é apenas o desejo sexual que uma relação duradoura é capaz de satisfazer. Uma relação só sobrevive ao tempo porque ela vai além da questão do sexo, sem, no entanto, desmerecê-lo. Ela perdura porque nela também se encontram outras satisfações biológicas, como proteção e procriação, bem como espirituais e sociais, como a necessidade de pertencimento a um grupo, a necessidade de apoio, entre tantas outras que não têm nada a ver com uma visão de longo prazo. O que acontece é que, muitas vezes, seduzidos por uma satisfação imediata de um desejo, normalmente, ligado ao prazer sexual, não nos damos conta do conjunto de necessidades que uma relação duradoura é, potencialmente, capaz de atender.

Por isso, se você, caro leitor ou cara leitora, estiver nesse momento questionando a relação que você tem com seu companheiro ou sua companheira já há muito tempo, em razão de alguma atração por outra pessoa, cuidado: você pode estar trocando uma jóia valiosa por uma mera bijuteria – e não falo isso movido por qualquer intenção moral ou religiosa, mas sim orientado pela relação custo x benefício. Se o ouro escureceu com o tempo, mas continua sendo precioso para você, antes de se arrepender por descartá-lo, dê um jeito de tratá-lo com o carinho e o respeito que ele merece. É bem capaz de você reencontrar, atrás da superfície escurecida, o brilho que você precisa para continuar admirando-o por muito mais tempo.