Olhares se cruzam, sorrisos são trocados, lábios se apertam, mãos se mexem de maneira estranha, em um ritual conhecido por todos nós, o ritual da paquera. Qualquer pessoa, em qualquer ocasião, está sujeita a presenciar esses gestos. Só que raríssimas são as que se deixam levar até o fim, permitindo viver momentos de paixão sem limites.
Tem muita gente que se satisfaz apenas com esse clima de atração recíproca, contentando-se com a massagem no ego. Mas também conheço muita gente que não vai em frente porque, de alguma forma, se sente impedida.
Têm aquelas pessoas que não se deixam levar pela atração por puro medo do que podem encontrar.
Será que ele/ela vai gostar de mim? Será que eu vou gostar dele/dela? Será que, na manhã seguinte, vou acordar completamente arrependido/a?
Têm outras que se paralisam pelos códigos morais.
Não posso, pois já sou comprometido/a. Se eu me entregar na primeira noite, o que ele vai pensar de mim? (Esta última encanação é tipicamente feminina.)
E têm ainda aquelas pessoas que preferem esperar pela “pessoa certa”. O problema é que só se conhece a “pessoa certa” se entregando, de alguma forma, para ela. E essas pessoas, assim como as que não se entregam por medo e as que se paralisam pelos códigos morais não se permitem viver a fantasia da entrega sem freios ou limites a uma paixão repentina.
É bom que se diga que não há nada errado em brecar essa fantasia. Romantismo, mesmo que ingênuo, medo da falta de controle sobre uma determinada situação, valores e crenças pessoais fazem parte de nossa estrutura emocional e não devem, nem podem, ser descartados de uma hora para outra. Isso não significa, no entanto, que devamos viver aprisionados dentro dessa estrutura.
Outro dia, fui procurado por uma amiga que, dizendo-se totalmente desrespeitada por seu chefe, confessou-se decidida a abandonar o emprego, mas só o faria quando encontrasse outra ocupação. Ao pedir minha opinião, disse apenas que, pelo nível de dedicação exigido em sua ocupação atual, ela teria pouquíssimo tempo para procurar um novo emprego, ao que ela retrucou que não se sentia segura em largar o emprego para fazer isso. Aí não me ocorreu outra analogia a não ser lembrá-la que, embora todos nós precisemos de chão para conseguir caminhar, a vida ás vezes nos coloca obstáculos cuja única alternativa é tirar momentaneamente os pés do chão e voar. Só dessa forma, conseguimos ir mais longe.
E, mesmo que o vôo possa nos trazer uma sensação de insegurança, sem correr riscos não há como se expor às infinitas novas possibilidades que a vida nos reserva em cada esquina, como se estivesse sempre nos lembrando que quem não arrisca, não petisca.