Jorge-de-bem-com-a-vida

quarta-feira, 13 maio 2009, 03:29 | | Nenhum comentário
Postado por Fábio Betti 

Só Jorge parecia saber da importância do time adversário. Por isso, ele preferia chamá-lo de parceiro nesta grande encenação pública, que é o futebol. Sem um adversário, não há futebol, não há espetáculo. Um depende do outro e, quando se depende de outro, não há qualquer lógica em considerá-lo, de fato, um adversário. Dependemos de parceiros. Jorge sabia das coisas.

Só não era unanimidade entre os cegos de paixão, os ferozes defensores de um único lado da questão, esses fanáticos imbecis que vão ao estádio para descarregar sua raiva, sua ira selvagem justamente em cima do outro time, da outra torcida, sem os quais, mais uma vez, não haveria futebol, não haveria espetáculo.

Por isso Jorge fazia história. Os comentaristas esportivos o idolatravam. “Jogador inteligente com os pés e com a cabeça”. “O Brasil e, certamente, o mundo aguardavam por um novo fenômeno”. Era ovacionado publicamente e privativamente.

Aberto, disponível, sensível, comunicativo, sutilmente tímido, Jorge era um sedutor nato, destes que não precisam da beleza – que, nele, é comum demais para ser notada – para ocupar um lugar central no mundo. Tem um coração tão puro e, como se dizia no passado, uma cuca tão legal que se tornam objetos de desejo praticamente irresistíveis.

Jorge era um jogador legal, assim como era um amante legal. De bem com a vida era o seu lema de todos os dias. Apaixonado por tudo o que é novo, porque tudo o que é novo é expressão concreta da vida, da transformação, do rio que passa, da história que se renova. Jorge também era profeta.

Véspera de Natal típica na baia de Guanabara. Mais gente do que o suportável, calor incessante, clima de deixa-o-trabalho-pra-lá-e-vem-pra-cá-descansar.

E não é que Jorge foi mesmo! Aos 89 anos, um mês antes de completar os 90, Jorge se foi, virou a página, mudou de história. De causa natural. Morreu sem ser reconhecido como aquele Jorge, que não foi o maior jogador que se tem notícia, mas que todos os que o conheceram ou que ouviram falar desse jorgador-lenda, reconhecem, sem titubear um instante, que ninguém mais, antes ou depois dele, foi tão amado por tantos.

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