Um homem hoje em dia precisa ser tão protetor e provedor quanto os homens de antigamente, mas, todos sabem, acabou a vida de rei de que nossos antepassados gozavam em seus lares. As tarefas domésticas são divididas. Justo. Os homens aprenderam a se virar na cozinha. Justo de novo. Participam da educação dos filhos. Justíssimo. Mas… mesmo dividindo as contas da casa, são raros os que não sofrem a pressão de serem os principais provedores financeiros. Conhece algum homem que recebe pensão da ex-mulher? Pois é, nesse aspecto, parece que evoluímos muito pouco, e não vejo muitas mulheres assumindo essa responsabilidade numa boa.

Também precisamos ser companheiros sensíveis, profundos conhecedores da alma feminina, só que ai se levarmos toda essa delicadeza para a cama! Esse é outro ponto onde o homem do passado impera, o touro indomável, esse amante infalível que, normalmente, não pode apelar para uma enxaqueca quando o amiguinho simplesmente não está a fim de brincar. É verdade que as mulheres até parecem encarar com naturalidade quando a coisa não funciona, mas, lá no fundo, nos sentimos absolutamente derrotados quando não correspondemos aos estímulos de nossa companheira, como se realmente tivéssemos que estar sempre prontos, à disposição da vontade feminina.

No trabalho, ocupamos espaços cada vez menores. As mulheres se transformaram em executivas multi-tarefas, com um talento absolutamente superior na arte do diálogo e do relacionamento – competência que vem sendo aperfeiçoada desde os tempos em que nós saíamos para caçar o jantar e nos mantínhamos em silêncio o dia todo, para não afugentar os mamutes, enquanto elas tricotavam entre si sem parar, com tempo de sobra para compartilhar seus problemas e aprendizados. Embora atualmente tenhamos muitas oportunidades para essa troca em nossos grupos masculinos, a falta de prática se manifesta nos diálogos superficiais sobre futebol, política e, é claro, sobre as mulheres. Sobre nós, só falamos com o terapeuta – claro, alguns de nós que encaram esse desafio de se desnudar de verdade para outra pessoa. Já a mulher, que faz terapia naturalmente, ainda tem na cabeleireira, na amiga, na vizinha e, algumas vezes, até na mocinha do caixa da padaria a possibilidade de se abrir e resolver seus problemas mais íntimos.

Amigo assexuado é outro papel que acabamos ganhando nos últimos tempos. Muitas mulheres não conseguem se abrir com seus companheiros e acabam fazendo isso conosco, como se fôssemos suas “amiguinhas”. Sim, nós temos amigas mulheres, sem problemas, mas, por favor, não nos peçam para ouvir histórias de sua intimidade. Não é à toa que os melhores amigos das mulheres sejam gays. Eles não enrubecem nem se constrangem porque não fantasiam com os detalhes da anatomia da amiga quando ela conta detalhes picantes de alcova. Às vezes, é como se você pensasse em sua irmã nua. Meu Deus, poupe-nos!

Ah! Ainda está faltando o trabalho pesado de casa, tipo consertar o encanamento do banheiro ou trocar a resistência do chuveiro. Pelo menos na minha vida, essa questão já é página virada. Pintar as paredes? Estou fora. Não troco nem uma lâmpada. Não tenho vontade e, pior, o menor talento para os reparos e consertos, muitas vezes, necessários à manutenção do lar. Deixei isso na mão de minha mulher, sem qualquer peso na consciência. Já é difícil o bastante ser um homem que discute a relação e, pior, em público. De vez em quando, me dou o direito de gastar um pouco dos meus créditos. Só assim mesmo para ser um homem feliz.