As pessoas têm necessidades diferentes no que se refere a relacionamentos. Qual é a novidade nisso? Nenhuma. Por que, então, esse fato ainda surpreende as pessoas e, não raras vezes, é motivo de discussão?

Todo mundo precisa de alguém. Mas esse alguém pode ser a esposa, um filho, um chefe, um colega de trabalho… todo ser humano precisa da relação com um outro para poder existir. Isso não significa, no entanto, que você só vive se estiver grudado no outro, feito um irmão siamês.

Imagina não conseguir nem ir até a padaria sozinho. Ou sair com os amigos sem que ela ou ele liguem para saber onde você está e com quem. Quer coisa mais broxante do que alguém no pé da gente como um cachorro? A vantagem é que o cachorro não tem e nem sabe usar celular. E já tem celular que pode ser localizado por GPS, o que pode se tornar uma perigosa arma para quem não consegue ficar um segundo longe do outro. Só que esta arma, quando utilizada para cercear a liberdade aheia, é apontada também para quem a empunha. Um dia desses, o obsediado se cansa do obsessor e retoma sua liberdade.

A pessoa que precisa do outro todos os dias age como a criança indefesa, que, por não conseguir arrumar alimento sozinha, chora sempre que tem fome ou sede. Só que estamos falando de gente grande, pelo menos, gente grande em tamanho. Gente que tem uma carência tão grande, que, para supri-la, o outro teria de deixar de ser outro!

Em qualquer dicionário em que se pesquise, o outro sempre será esse ser que não é a gente. Em outras palavras, o que é importante – às vezes, essencial – para nós, não o é, necessariamente, para o outro.

Àquele ou àquela que só consegue ser feliz em uma relação onde o outro tem que estar presente o tempo todo, resta identificar alguém com o mesmo tipo de necessidade ou tentar livrar-se de vez de seu vício. E aí o negócio é encarar-se no espelho e se perguntar o que raios acontece para que a própria companhia seja, assim, tão desprezível.