Trocar, mudar, transformar, abandonar a zona de conforto, desapegar do passado, de velhas crenças, adotar novos paradigmas. Ufa! Essa parece ser a cartilha dos tempos atuais. Outro dia, uma amiga me enviou meu horóscopo* para este ano. Estava escrito, literalmente: “…ao longo de 2010 não sobrará pedra sobre pedra. A vida mudará tanto, mas tanto, que a pessoa terá a sensação de ter morrido simbolicamente e renascido de outra forma.” Medo!
Por que será que mudar, de modo geral, costuma nos apavorar? Mudar de casa, de emprego, de companhia, de cidade, mesmo quando é para melhor, ainda assim, nos assusta.
Ouvi recentemente uma metáfora sobre a mudança extremamente simples e que fez muito sentido para mim: a conhecida metamorfose da lagarta em borboleta. E aí, sob a ótica desse processo de transformação, resolvi refletir sobre a forma como me comporto e como se comportam as pessoas de meus diferentes círculos de relacionamentos. Ao final, pude observar alguns padrões que se repetem mais ou menos assim:
Tem gente que não consegue se ver borboleta e luta contra tudo e contra todos para viver eternamente no estado de lagarta.
Tem gente que até imagina o futuro como borboleta, mas, com tanto medo do desconhecido, não consegue abrir mão da vidinha de lagarta.
Tem gente que já é borboleta, mas sente, pensa e age como lagarta, encolhendo as asas e rastejando como se não pudesse voar.
Tem gente que, depois de virar borboleta, esquece de onde veio e se sente superior às lagartas.
Tem gente borboleteando pela primeira vez e se espanta de, às vezes, chorar de emoção ou gargalhar até não agüentar mais quando se depara com coisas tão simples quanto uma gota de orvalho numa folha pela manhã, duas pessoas se abraçando, brigadeiro de colher, um copo de água gelada num dia quente de verão, suco de laranja colhida na hora, bebê dormindo, bolo de aniversário, desenho de criança, homem aos prantos, olhar desamparado de mendigo, vovô empinando pipa com o netinho, cachorro correndo atrás do próprio rabo, papagaio falando palavrão, formiga carregando folha dez vezes maior do que ela, acordar sem despertador, por do sol no mar, raios e trovoadas sem chuva, arco-iris, nuvem que parece rosto de gente, menino puxando barba de Papai-Noel, casal dançando fora do ritmo da música, beijo selinho, beijo no rosto, beijo no pescoço, beijo de língua, beijo na mão, beijo nos dedinhos do pé gordinho do nenê que ri gostoso, como se ele soubesse claramente de sua essência borboleta. Eu acho que ele sabe…
Qualquer que seja o seu momento, você é, ao mesmo tempo, lagarta e borboleta. Você pode ou não ter consciência disso, o que não muda em nada o fato de que nossa natureza é a mudança. Basta observar a si mesmo e o seu entorno. Seus cabelos crescem, suas unhas crescem, sua pele envelhece, os alimentos e a água que você ingere se transformam dentro de você, seu corpo não para de se transformar um único segundo. Tudo a sua volta muda o tempo todo. Lutar contra isso não vai ajudar em nada. Pelo contrário, ir contra a correnteza é sempre uma tarefa dura, dolorosa e inglória – para não dizer burra! A água sempre segue o seu fluxo, contornando com facilidade os obstáculos que encontra pelo caminho ou perfurando-os paciente e insistentemente ao longo do tempo.
Portanto, da próxima vez que você se sentir ameaçado ou ameaçada por alguma mudança em sua vida e ficar com aquela vontade de rastejar rapidinho de volta para o seu casulo, pare, pense, conecte-se com o seu coração e seus sentimentos mais profundos e lembre-se do prazer que é voar na confiança no fluir e olhar o mundo sob outro ponto de vista, na companhia de um sem número de borboletas, sejam elas promessa, presença ou história.
* O horóscopo que consultei e me inspirou a escrever este post pode ser acessado pelo link http://bit.ly/8bSkjv. E as pessoas que me inspiram a voar estão por aí borboleteando.
Que lindo, Fábio! Uma inspiração típica de quem está prestes a lançar voo…
Acho que o mais dolorido no abandono do casulo
é a ágorafobia que esse movimento provoca: muita abertura, e não estamos acostumados com ela. Sempre precisamos de um cercadinho – berço, teto, outro… Ícaro que nos diga…
Boa sorte no seu voo! Abraço.
Na verdade, Patricia, sou todos os estados de lagarta/borboleta que descrevi no texto. Vou me metamorfoseando em cada um ao longo do tempo. Por exemplo, as vezes, acordo encarcerado em meu casulo e à tarde já estou adejando como uma borboleta. Ou vice-versa. Saber-me borboleta ajuda a superar o medo de mudança da lagarta, e saber-me lagarta me ajuda a não me transformar em uma borboleta arrogante.
Puxa, Fabio, que lindo!!! Não sei se te contei mas terminei o ano com esta metáfora muito presente para a minha vida. Os acontecimentos no final do ano me deram a forte sensação de que a lagarta virou borboleta.
E que lindas borboletas e lagartas você retrata no texto. Vai e volta e unifica e identifica, colore, … lindo!!! O que seria da lagarta sem a borboleta e da borboleta sem a lagarta não é mesmo ? Diferentes facetas e uma totalidade.
Gostei muito do seu post! Nem todas as pessoas permitem-se metamorfosear ao longo da vida e, dentre elas, um número ainda menor compartilha seus voos como vc faz. Pra mim, borboletas têm um significado muito especial e pontuam a vida daqueles que desejam, de fato, voar! O seu post acabou me motivando a escrever um outro sobre o q esses seres alados representam pra mim. http://bit.ly/6StDfO
A natureza é muito sabia e fala o tempo todo com quem está disposto a escutá-la. Os nossos ancestrais sabiam tão bem disso, mas a gente está tendo que reaprender.
Bj e bons voos!
Adorei o texto !! Adoro mudanças !!! Apesar de que as vezes elas assustam … mas o que seria da vida sem perspectivas ??
Pode ser uma mudança de emprego, casa … um filho, um conceito … tudo vale a pena !!
bjs
Impressionante como alguns textos tocam. Esse foi um deles. Obrigada pela dica. Nesse exato momento da minha vida, era o que precisava ler.
Um grande beijo
Teca Pereira
Obrigado a você, Teca, pela partilha. Espero que você esteja bem. Bjs.
Mais um texto tão lindo.
Gosto dos textos e gosto deles serem escrito pelo Fábio.
Fábio é o nome do meu marido e do meu orientador de mestrado.
Qnd era pqna, adorava o Fábio Júnior e acreditava que a gente ia se casar. Acho que Fábio é meu significante – rsrsrsr! Vou levar essa pro analista 🙂
Obrigado, Tereza, a você pelo interesse no blog, e aos Fabios de sua vida, pelos significados que eles lhe trazem, quaisquer que sejam eles.
Adorei o seu texto que encontrei na net. Procurava algo sobre transformação para dar iniciação sobre Reiki. Parabéns e felicitações de Braga Portugal.
Obrigado, Ana, pelo carinho, e transmita meus abraços aos amigos portugueses.
cheguei até vc quando em um exercicio falei Sobre Lagartas e Borboletas (http://recantodasletras.uol.com.br/pensamentos/2481263) assim cheguei a esta excelente crônica. Vc me autoriza a reprisá-la em “Só Crônica” ?: http://socronicas.blogspot.com/
Grata
Soaroir
Claro! Fique à vontade para reprisá-la. Mas me conta uma coisa: por que o rio é raso?
Oi, Fábio … achei linda sua reflexão! Fiz um trabalho psicopedagógico com adolescentes este ano e durante apenas 8 encontros pude ver muitos nessa maravilhosa metanóia. Me permitiria colocar parte dessa sua reflexão do meu Blog!
Bj
Oi Osana, obrigado pela visita e fique à vontade para usar trechos do texto em seu blog. Bjos
A lagarta sente muita fome na hora da metamorfose, porque isso?