“Expectativas nunca se cumprem, pois são exigências de que ocorra algo a partir de um outro que se sabe incapaz de realizá-las.” A frase, de uma lucidez brilhante e aguçada como a lâmina afiada de uma espada, saiu da boca de um mestre que se disse ressentido (a palavra em espanhol que ele usou foi “enojado”) e encontrou neste discípulo guarida para reverberar e provocar a dor e o sofrimento de quem se pergunta, afinal, o que é o humano.

“As expectativas são frustrações de promessas não feitas e não cumpridas. Não se pode cumpri-las, porque vivemos em dinâmicas independentes.” Não vejo como discordar do raciocínio… Percebo-me, no entanto, num beco sem saída.

Meu mestre, a quem tenho dedicado meu estudo e para quem venho trabalhando voluntariamente na disseminação de suas ideias, coloca uma pedra sobre a questão: “Expectativas demonstram falta de respeito – contra o outro e contra si mesmo. Se há, portanto, alguém aqui com expectativas, que se vá embora.”

Calo. O coração de repente fica menor, a respiração ofegante, a garganta fecha-se aprisionando um dito sem palavras, um dito natimorto paralisado no estágio da emoção. Quedo, estupefato diante de um imenso dedo – o dedo de Deus? – apontado em minha direção, imagem que eu mesmo gero no meu duro silêncio, em minha solidão de humano que vive imerso em expectativas…

Como posso ser digno de meu mestre se tenho a expectativa quase como uma segunda pele?
Tenho a expectativa de conseguir ser bem-sucedido em minha nova carreira.
Tenho a expectativa de que o amor jamais acabe em meu casamento.
Tenho a expectativa de que meus filhos cresçam felizes e se tornem pessoas boas para o planeta.
Tenho a expectativa de sempre poder contar com amigos.
Tenho a expectativa de aprender com meus erros e me abrir para o novo…
Quando escrevo sobre minhas expectativas e releio o que escrevo, já não sei mais se tenho expectativas ou se são elas que me tem…

“Não quero que me tolerem. Quero que me amem, que me respeitem, que me escutem.” Lembro-me desta outra frase de meu mestre e, de repente, nem tolerado me sinto…

Alguém ao meu lado, percebendo-me momentaneamente perdido nesse turbilhão de pensamentos, vem em meu socorro: “Talvez, este seja o limite dele (do mestre). A dificuldade de dialogar sobre questões que ele (o mestre) considera inegociáveis.”

Ao ouvir essa hipótese, caio ainda mais, ainda mais sem chão, ainda mais traído por minhas expectativas. Meu mestre com dificuldades de dialogar? Surpreendo-me ao conjecturar que, ao se rebelar contra os que vem com suas expectativas, ele também se revela alguém… com expectativas! “Se há, portanto, alguém aqui com expectativas, que se vá embora.” Com essa frase, ele mostra que tem a expectativa de que os que aceitarem o convite para o trabalho não tenham expectativas…

Confuso, concluo-me incapaz de atender a expectativa de meu mestre. Penso por um momento em abandoná-lo, sentindo-me indigno de ser seu discípulo, convidado a se retirar, mas logo em seguida lembro-me que ele, também, revelou, pelo menos, uma expectativa, o que me convida a abrir mão da imagem inalcançável do mestre perfeito.

Assim, olho para aquele senhor de idade, franzino, de fala normalmente calma e pausada e, de repente, vejo-me frente a frente com outro ser humano como eu, humano imperfeito como eu, imerso num mundo de luzes e sombras como eu, mundo de desprendimento e expectativas onde ele também vive, um mundo de profundos contrastes onde só poderemos, de fato, nos encontrar no conviver no respeito, no amor, na paciência e na confiança de que o respeito, o amor e a paciência pavimentarão o caminho da aceitação do que somos, sentimos e fazemos, sem sabermos ao certo, no momento em que vivemos, se podemos chamar o que vivemos de percepção ou ilusão, de expectativa do ego ou intenção genuína de evolução.