Quando começamos um relacionamento – qualquer que seja ele -, a primeira coisa que buscamos são as afinidades. Quanto mais afinidades descobrimos, mais forte o relacionamento fica. É simples assim.
Olhe a sua volta. Você e seus amigos têm alguma coisa em comum que faz com que vocês desejem estar juntos. O mesmo vale para você e seu companheiro ou sua companheira. Vocês dividem algum tipo de gosto, uma preferência, um estilo, um jeito. Caso contrário, não estariam juntos. É o que acontece com muitos casais. Os anos se passam, as pessoas se modificam, em algumas situações, a tal ponto que não se consegue mais identificar afinidades suficientes para que elas continuem juntas. Sem as afinidades que as uniram e sem novas afinidades que não se revelaram, elas se separam. Vão cada uma para um lado, novamente à procura de pessoas que se pareçam com elas.
É duro constatar, mas a verdade é que gostamos de nos relacionar com pessoas que pareçam conosco. Elogiamos alguém por algo que nós também costumamos fazer ou faríamos. Concordamos com alguém quando ouvimos algo que também acreditamos. Assim, se desejamos muito estar com alguém, procuramos valorizar muito mais as semelhanças do que as diferenças. Às vezes, nem sequer percebemos as diferenças, tanto que queremos que o relacionamento dê certo.
E pessoas tão parecidas conosco são para nós ótimas companhias. Elas nos reforçam positivamente, semeando-nos de aceitação e confiança, embora, em algumas ocasiões, esse espelho também provoque efeitos indesejáveis. É que, ás vezes, ao invés das características que mais amamos em nós, o outro desperta o lado do qual não nos orgulhamos.
Quando isso acontece, costumamos nos magoar com o outro, culpando-o pela dor causada por não aceitarmos nossa própria sombra. Parece estranho, mas é isso mesmo: quem, de alguma forma, nos lembra de nossa imperfeição é responsabilizado por isso. Rapidinho, ganha o título de má companhia. Quem mandou acordar o monstro? Dependendo do tamanho e da fúria do monstro acordado, nos afastamos do outro, como um animal maltratado por seu dono.
No entanto, sem que o outro atuasse como nosso espelho, dificilmente, teríamos a oportunidade de encarar nossa sombra e, a partir deste olhar, superá-la e, com isso, prosseguir em nossa escala evolutiva.
Crescer dói. Mas… será que é só na dor que crescemos?
Já me juntei ao coro dos que cultuam a dor como o aprendizado mais poderoso. O que se aprende com um elogio? Apenas que se está certo. Enquanto a dor nos ensina o que precisamos olhar e corrigir. E assim, ao longo da vida, quantos sapos não se engolem! Aceitamos a companhia de um outro que, além de completamente diferente, parece viver com o dedo apontado para nossas feridas. Assim, ele nos ensina, nos ajuda a olhar para o que teimamos em não ver. Os inimigos são nossos mestres! Bobagem! Tremenda bobagem!
Que aprendizado é esse que cobra seu preço na moeda que nos é mais cara? Quanto amor próprio deixamos escorrer pelos dedos em nome dessa crença estúpida?
Que vantagem há em relacionar-se com alguém que só enxerga nossa sombra? Ou somos masoquistas inveterados ou sonhamos em atingir a categoria de mártires, para quem todo sofrimento é recompensado na utopia do além-vida. Fora esses dois casos, resta ainda a loucura…
Agimos como loucos varridos, quando nos mantemos em relacionamentos que nos destroem. Pais eternamente insatisfeitos, incapazes de reconhecer nossos esforços em agradá-los, muito menos nossos reais talentos. Chefes cruéis, para os quais nosso serviço nunca está no ponto certo. Companheiros que passam a vida reclamando que não somos o que eles esperam que sejamos, e que, fique claro, isso é culpa nossa, nós, eternos incapazes de sermos o que não somos.
Além de instrumento eficiente para nossa própria extinção, companhias como essas não nos servem para nada. Que fiquem então sozinhas com sua eterna amargura ou que se juntem e se destruam mutuamente, para o bem de todos os que sofrem em suas mãos, encarcerados em tristes castelos eternamente inacabados, que não se sabem de areia.
Como seres amorosos por natureza, precisamos, antes de qualquer coisa, de amar e ser amados. E isso, mesmo que muitos não pratiquem, todo o mundo sabe: só o amor constrói.
As boas, as más e as companhias que não nos servem para nada
segunda-feira, 27 setembro 2010, 00:03 | | 2 comentáriosPostado por Fábio Betti
Como seres amorosos por natureza, precisamos, antes de qualquer coisa, de amar e ser amados. E isso, mesmo que muitos não pratiquem, todo o mundo sabe: só o amor constrói.
Repito o final de seu texto porque é a minha crença: cada vez mais me convencó – por duras experiências – que escolho sofrer. Simples assim! Sofrer é muito nobre, desde q Jesus foi pregado à cruz. Então, muitas vezes, escolhemos esse caminho por crença, cultura e, talvez, por nobreza.
Sei que há caminhos mais simples, mas ainda estou tentando descobri-los…
Lendo esse texto hoje me pergunto porque é tão difícil se libertar, ir em busca de novos horizontes, mas por incrível que pareça isso é mais comum que se pode imaginar.
A prisão muitas vezes não está atrás das grades de um presídio ,mas no próprio lar.
Quem sabe um dia cheguem ao conceito “só o amor constrói”.